domingo, 27 de setembro de 2009

no chão frio, pés descalços.

Ontem, assistindo televisão, comecei a pensar sobre as coisas todas que se passam aqui dentro. Auto-análise mesmo. Autocrítica. Sabe quando você tenta medir o tamanho do sentimento e não consegue? Quando você para pra pensar e não sabe se sente porque simplesmente não consegue NÃO sentir, ou se sente porque simplesmente QUER sentir? Aquele tal de vício de amar, entende?
Descobri que anda tudo bem confuso aqui dentro. Não sei mais até que ponto eu realmente sinto amor. Não consigo separar mais as coisas. Não sei se virou uma obsessão pelo próprio sentimento. Aquela coisa de que “foi tão forte e tão real, que não quero que acabe, mesmo sabendo que já acabou”.
Tenho um pouco de medo disso. De perceber que perdi um bocado de tempo achando que sentia algo que simplesmente nem estava mais ali. Só pra me sentir completa de alguma forma. Só pra ter em quem pensar e por quem sentir e sofrer e lembrar. E me preocupar também.
E, por outro lado, tenho angústias em perceber que, depois de tanto tempo, ainda sinto e ainda é forte. Ainda é incontrolável. Tenho medo de pensar que, caso volte, eu volto junto. Mesmo que sofra. E mesmo que dê errado. Porque eu sei que é isso que acontecerá.
Como então posso ter consciência de que não dará certo, que eu não gostaria de reatar algo já tão problemático, que sofrerei de qualquer maneira e, mesmo assim, mesmo tão realista, ainda sentir e alimentar esse sentimento todos os dias?
Não me entendo. Não consigo definir o que se passa aqui dentro e o que eu realmente quero da minha vida.
Tenho medo dessa demasiada consciência, que me invade todo santo dia, que anula mais um lado emocional do meu corpo. Tenho medo de chegar num padrão consciente absoluto, em que não me reste nem um pouco de expectativas sobre algum sentimento positivo em relação a ele. Que deixe de ser.
Simplesmente deixe de ser, de uma hora pra outra.
E daí, serei o que?
Serei quem?
Serei pra quem?

Ando pensando demais.
(postado em 29/09)

27 de setembro de 2008. Rua Augusta.

lembro cada detalhe desse mesmo dia, ano passado. cerveja, amigos, conversas, risadas. telefonemas seguidos. espera. encontro. abraço. carinho. desabafos. elogios. mais abraços. mais conversas. carona. um convite. uma vontade. o silêncio. o desejo.
a madrugada.
o beijo.
lembro cada detalhe e cada palavra e cada gesto. os movimentos todos. os olhares. o receio. a ansiedade. o coração batendo forte. a surpresa. a delicadeza. tudo.
como se fosse ontem. ou como se estivesse sendo ainda.
engraçado aquilo de relembrar é reviver. faz todo um sentido.
cada vez que relembro, revivo o frio na barriga. me dá borboletas. e é bonito.
insisti tanto que ficasse feio. desejei tanto não desejar mais. e nada. não adianta. desejo. anseio. relembro datas. palavras. relembro tudo. e porque quero. porque gosto de pensar que um dia foi real. tava aqui do meu lado. aqui na minha frente. o tempo todo. eu alcançava, entende? eu podia tocar, encostar, sentir. ouvir. ver. ter. por momentos, sem um pingo de medo do que era e do poderia (um dia) deixar de ser.
aquele tal de mundo paralelo que eu insisto em falar. e insistia em entrar. o mundo parava. mesmo. não girava mais. a poesia dos olhares. a dança dos corpos. a imprevisibilidade dos pensamentos. a saudade, logo depois de ver.
parece que foi ontem. gosto de lembrar. agora.
logo mais já começa as dores no peito. a tontura. a dor de cabeça.
eu, levemente morta. por alguns minutos.
porque parei lá.
e não consegui mais sair.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Extremos da paixão.

Por Caio F.

"Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo..."


Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro (a) mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo (a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo (a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.
Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolos em face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

21 guns.

Não sei mais.
Hoje é uma das poucas vezes que eu não consigo definir o que sinto. Tudo se mistura.
Ter a consciência de que a pessoa que você ama te ama com um amor que a destrói é muita dor. Muita. É falta de ar, constante. É dor no peito. Sensação de morte.
Preferia que não amasse. Assim, nenhuma vontade de auto destruição viria junto com meu nome ao lado. Meu nome que ama seu nome e todo o resto. Com um amor puro. Um amor que eu gostaria de ter. vindo dele.
Prefiro que não me ame. Porque, assim, pode amar alguém que não lhe traga tanta dor e sofrimento. Alguém que traga mais simplicidade. Dentro dele. Alguém que lhe proporcione paz.
Tenho medo que esse amor o destrua realmente. E, se destruir, me destruo junto. Não agüentaria. Conheço meus limites. E esse ultrapassa qualquer um.
Queria sua paz... o queria como antes. Aquele sorriso lindo. Aquele brilho nos olhos, as mordidinhas nos lábios. Os assuntos intermináveis.
Não o reconheço mais. E tenho medo de saber que, indiretamente, tenho influência sobre isso tudo. Essa falta de respostas e o transtorno que isso lhe traz.
Sei que não há culpa. Minha. Dele. São conseqüências. Ok. Mas fazer parte, de alguma forma, disso tudo, me machuca.
Meio egóico. Pode ser.
Mas ver alguém que você ama se machucando é indescritível.
Tenho medo. E, mais do que nunca, não sei o que fazer além de doer.
Não sei mais...

.

tenho medo do que isso tudo pode vir a se tornar.
no fim que tudo isso pode ter.

sábado, 19 de setembro de 2009

hoje, lucidez (2).

decidida.
decidi colocar um ponto final nessa dor agonizante. essa dor que se torna física. inclusive no coração mesmo.
decidi ir com calma e respeitar meus limites. me respeitar inteira. eu, Bruna, resolvi me dar um pouco de respeito. um pouco de valor. percebi que 1 + 1 são 2. e esse resultado não se encaixa no caso. o caso é 2 - 1 = 1. e o resultado sou eu. sozinha. doendo.
decidi ouvir músicas tristes durante vinte minutos do meu dia. no máximo. e, enquanto ouço, deixar de pensar no que ele pode estar fazendo. ou então se, enquanto faz, pensa em mim.
decidi, depois, começar a sentir menos saudade. deixar de ver fotos. deixar de lembrar datas. esquecer o número do celular que tenho mermorizado. essa tal memória minha imediata.
resolvi tentar entrar em comum acordo com a indiferença. dele. nos momentos mais propícios. quem sabe, assim, me convenço de que é fácil ser indiferente, como parece ser pra ele.
decidi ser injusta. pensar as coisas mais sem sentido em relação ao que ele sente. fazer de conta que é pequeno. acreditar no egoísmo. até sentir dor suficiente pra apagar o que é bom. pro meu inconsciente receber a mensagem e mudar qualquer desejo positivo por ele.
decidi ser levemente cruel. comigo. com ele também. chorar em silêncio. sozinha. sorrir gritando, em público. pra me convencer de que realmente sou mais feliz a cada dia que passa. fora.
decidi desintoxicar.
acabar com esse vício que tem me matado todos os dias um pouco.
ficar sóbria do amor.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Líria Porto:

invisibilidade

esta dor que quando olhas
não compreendes porque
não é de fratura exposta
é de amor sem resposta
a solidão ninguém vê

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Pablo Neruda:

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

assimilando.

tem essa angústia no peito que não passa. como se a qualquer hora meu corpo fosse explodir aqui dentro. uma falta de ar sem causa. uma dor sem motivos.
físicos.
um desespero constante.
não me entendo hoje. nem me entendi ontem. não entendo ou não quero entender.
parece que já vivi isso antes. um dejavu de algo não distante. temporal. mas sei que insisto em esquecer angústias como esta. e, logo, me restam vagas lembranças de uma dor, registrada nas sombras do meu inconsciente.
tenho medo dessa angústia, porque me remete à perda de algo que me sempre é bom: o amor. e perder o amor é perder grande parte de mim. e, misturado com a perda, vem a saudade daquilo que foi e não mais é. é num dia e deixa de ser no outro.
me dói morrer por dentro. aos poucos. porque é assim. uma tortura constante. aquele momento entre a vida e a morte. entre morrer e ressuscitar. muitas e muitas vezes num mesmo dia.
coração nenhum agüenta.
e angustia.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

hoje, lucidez.

cansei dos versos. das palavras escritas à mão. das frases incompletas.
cansei da solidão acompanhada. de procurar ao lado e não ver.
e da inconstância que machuca. e não me vê. não me percebe.
cansei de crer em algo descrente. cansei de lutar contra todos os fatos que não jogdos na minha cara. uma cara que ri e chora. fala e emudece. cora e empalidece. conforme um ritmo que não é meu.
cansei de olhar no espelho que não mais me vê. cansei de escolher a roupa mais bonita, os brincos exatos. a maquiagem certa. pras horas erradas.
cansei de me desculpar por atos que não são meus. de me sentir culpada quando sou inocente. de ouvir quieta acusações de todos os lados.
cansei de olhares e palavras que julgam. e ofendem. e machucam. cansei de um respeito demasiado na espera por um que nunca vem.
cansei de cuidar de um amor que se descuida. limpar um amor que se suja. soprar a ferida aberta.
cansei das possibilidades ilusórias.
cansei de esquecer de mim. por ti.
e, então...
morri um pouco.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

eu vou equalizar você.

hoje.
hoje se completa um ano. um ano de uma certeza absoluta que tive ao olhar pra ti, sem nem te conhecer. eu me apaixonei. naquele instante. ali, eu sabia que era você. (como pode? não sei.)
uma certeza que foi quebrada na mesma hora. e reconstruída dias depois.
hoje faz um ano. um ano do primeiro 'oi'. do primeiro beijo no rosto. da primeira conversa. do primeiro elogio. do primeiro toque de mão. da primeira vontade. do primeiro olhar escondido. da primeira teimosia de que era você. e da primeira negação de que era impossível, sendo que na verdade não era mesmo.
hoje faz um ano. um ano de paixão. um ano de falta de ar. de borboletas no estômago. de esperanças. esperas e expectativas. um ano de telefone tocando e deixando tocar. um ano de mundo paralelo. de olhares cruzados. de sorrisos no rosto. um ano de beijos intensos. de apelidos carinhosos. de beijos nos olhos. de saudade. um ano de você dentro de mim, gritando.
hoje faz um ano. um ano que tenho certeza que você é a pessoa certa pra mim. mesmo com um ano de história errada. mas é você. sempre foi. parado naquele metrô. e eu soube ali.
um ano de falta de paz. que me enfraquece e me alimenta.
um ano de paixão que não morre e de amor que cresce.
um ano de incertezas e certezas.
um ano de aprendizado.
um ano de amor, ora com, ora sem exigências.

hoje faz um ano.
um ano que eu te amei sem te conhecer.
um ano que te amo.
e continuarei a amar.
não sei até quando. infinitamente enquanto durar.

domingo, 13 de setembro de 2009

Pausa de Caio - pra desabafo:

hoje acordei com sede. por você. de você. sobre você. a sede veio da ressaca. de ontem. por você. de você. sobre você.
meu ontem: você.
meu hoje: você.
litros d'água, coca-cola, boemia não matam minha sede. a sede se mata com você. é você que precisa aparecer pra matar a sede, a fome. tudo. pra matar as ervas daninhas, aquelas que o Caio cita tanto. que teimam em invadir um amor tão lindo. meu. seu.
pensar em você me dá ainda mais sede. engraçado. falar de você me desidrata. corpo. alma.
falei hoje. muito.
desidratei.
enfraqueci.
e vim pra casa. tomar água, coca-cola.
e a sede não passa.
cadê você aqui?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Inventário do Ir-remediável.

Caio Fernando Abreu

(...)
Não queria, desde o começo eu não quis. Desde que senti que ia cair e me quebrar inteiro na queda para depois restar incompleto, destruído talvez, as mãos desertas, o corpo lasso. Fugi. Eu não buscaria porque conhecia a queda, porque já caíra muitas vezes, e em cada vez restara mais morto, mais indefinido -e seria preciso reestruturar verdades, seria preciso ir construindo tUdo aos poucos, eu temia que meus instrumentos se revelassem precários, e que nada eu pudesse fazer além de ceder. Mas no meio da fuga, você aconteceu. Foi você, não eu, quem buscou. Mas o dilaceramento foi só meu, como só meu foi o desespero. Que espécie de coisa o cigarro queimou, além dos cabelos? Sei que foi mais fundo, mais dentro, que nessa ignorada dimensão rompeu alguma coisa que estava em marcha. Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. A noite ultrapassou a si mesma, encontrou a madrugada, se desfez em manhã, em dia claro, em tarde verde, em anoitecer e em noite outra vez. Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

PRA VOCÊ (sim, você mesmo).

CARTA ANÔNIMA - Caio Fernando Abreu

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos, e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas são sempre bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, agora não, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés delas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.) E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você — seria, seriam?
Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam uma nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito poder de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos mesmo meio tudo isso, não tem jeito, e tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olivia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Wim Wenders, mais Cecília Meireles que Nélson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca na minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão Cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas Contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de dormirvezenquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.
semana de Caio Fernando Abreu. como não tenho encontrado palavras dentro de mim pra definir o que sinto, o escolho. porque é como se falasse por mim. escolhi alguns do vários escritos dele. segue, conforme os dias passam.

Para uma avenca partindo:

— Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.
Caio Fernando Abreu

terça-feira, 8 de setembro de 2009

é assim que tem que ser. não tem jeito. é sempre saudade. e será não sei até quando. não sei se temporariamente. não sei se permanentemente. não sei.
e é assim que tem que ser. o não saber. e o conformismo. porque, se eu gritar pro mundo todo, pedindo respostas, não vai adiantar. vai continuar sendo sempre assim. e eu tenho que aceitar. e me adaptar. e me moldar a isso. ou então jogar tudo pro alto e correr pra bem longe daqui.
mas é isso que é difícil. e é disso que tenho medo. jogar pro alto. e se for tudo temporário? e se um dia tudo mudar de uma hora pra outra? não quero que seja tarde. não quero que tudo tenha caído no chão e se espatifado. é muito forte pra jogar pro alto e esperar quebrar. não quero que quebre. nem que amasse. quero intacto. por mais que saiba que, a cada dia, é o que menos acontece.
eu tenho medo de uma consciência que anda crescendo aqui dentro de mim. uma consciência que não quero por perto. negação mesmo. mas ela parece cada vez mais forte. e eu vou entendendo tudo. cada ponto e vírgula. cada ação e reação. uma consciência que foge de qualquer controle que eu possa ter sobre mim mesma. nem o inconsciente passa por cima mais. e eu não sei até que ponto isso é satisfatório, contrapondo com o meu desejo. isso. é isso. é a consciência de um lado. e o desejo de outro. em completos caminhos opostos.
é ainda forte. ainda me dá arrepios. e borboletas. ainda sinto calafrios quando parece que tudo o que eu crio aqui dentro vai dar errado. ainda é bonito quando dá certo. e é lindo quando dá muito certo. e é saudade no dia seguinte. e é consciência de que o dia seguinte será um dia qualquer. sem a parte final que eu criei. sem a expectativa de uma ligação falando que me quer de novo. e de novo. e de novo. é só um dia sem graça. de lembranças.
não sei mais. tudo grita. e não sei se é dor. se é desespero. se é saudade. ou vontade.
.
reluto contra a complexidade.
reluto contra os fatos.
reluto contra mim mesma.

Caio Fernando Abreu:

Amor não resiste a tudo, não. Amor é jardim. Amor enche de erva daninha.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

desabafo momentâneo:

ainda me dá borboletas. muitas.

sábado, 5 de setembro de 2009

com.fusão.

eu não entendo. cada vez entendo menos e é sempre quando quero entender mais. não entendo a maneira de agir diferente, a todo instante. a falta num dia. a secura no outro. não entendo as palavras lindas num sábado. as feias no sábado seguinte. o sumiço e a procura. a trilha sonora ontem, a falta de melodia amanhã.
eu não entendo tantas coisas, sempre quando eu rezo pra entender.
queria poder ter um pouco menos de pulsação por você. e um pouco mais de racionalidade pra poder ver um aspecto diferente nisso tudo. um pouco menos de sentimento pra não querer a todo instante. um pouco mais de frieza pra aceitar a impotência. ou então pra mandar pra longe algo que meu coração insiste em puxar pra perto.
eu queria um pouco mais de respostas suas. Essas mesmo que nem você sabe responder. e eu sei que você não sabe, mas insisto que você saiba e me dê. pra cessar o sangramento que não pára e me deixa anêmica. fraca.
queria menos perguntas na minha cabeça. e um pouco mais de objetividade. aceitar as coisas como se mostram e não como eu sei que deveria ser e não é por N motivos. mesmo quando há desejo dos dois lados. e ternura. e carinho.
eu queria menos impulsividade. e menos expectativas. essas duas coisas que eu insisto em proteger, como se fossem positivas. mesmo tendo consciência de que não são. mas eu gosto. gosto de explodir e gosto de imaginar como seria. ou como será. baseada no meu desejo de querer. e na idéia de como deve ser.
é sempre o “gostaria” e “deveria” que me rondam a todo instante. no final das noites de um fim de semana repleto de vazio. nunca é “gosto” ou “é”. é sempre “se”.
eu queria que você não fugisse sempre. nem me deixasse parada. esperando. implorando qualquer tipo de resposta. e depois imaginando porque você fez isso. se por medo, ou por indiferença, ou por raiva. e daí as suposições voltam e as expectativas são reforçadas... e tudo vem à tona.
aquela fraqueza minha que eu tinha amassado aqui dentro do peito, pra sumir. a vulnerabilidade que você desperta em mim. e o amor. porque pra mim é isso que eu sinto. mesmo com medo de que você não sinta igual. mesmo que não seja nem de longe parecido. pra mim é isso. é o que eu sinto.
eu queria menos silêncio.
menos dúvidas.
mais certezas.
menos distância.
mais você.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

sentido.

não gosto de bandinhas emo, mas a letra dessa música é linda:


Desde Quando Você Se Foi
Composição: Lucas Silveira

Mais uma história com um final
Mais um coração partido
Um novo fim pra um amor normal
Mais um choro sem sentido.
Não há razão pra te escrever
Perdi a razão ao encontrar você
E as minhas palavras se misturam
Num mar de falsas canções
E te dizer...

Que amor não senti é mentir pra mim
E mesmo que seja melhor assim (Te dizer...)
Não posso negar que eu quero voltar
Eu sempre quis nunca precisar
Te dizer...

Que desde quando você se foi
Me pego pensando em nós dois
E eu não consigo ver onde que eu errei
Se um dia eu fiz você chorar
Nem meses vão te recuperar
Mais uma chance pra mostrar que eu mudei

Você diz que
É só de amor que eu sei falar
Mal sabes que
Se eu soubesse eu tentaria te ligar!
Pra dizer...

Que amor não senti é mentir pra mim
E mesmo que seja melhor assim (Te dizer...)
Não posso negar que eu quero voltar
Eu sempre quis nunca precisar
Nunca precisar

Que desde quando você se foi (Voce se foi)
Me pego pensando em nós dois (Em nós dois)
E eu não consigo ver onde que eu errei (Que eu errei)
Se um dia eu fiz você chorar (Voce chorar)
Nem meses vão te recuperarTe perdendo eu cresci tanto
Que eu não sei se eu quero mais te encontrar

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

é. pra mim é isso. é sempre amor. o que me faz seguir adiante é sempre o amor. ponto. já disse. não só o romântico. qualquer tipo de amor. se eu não vejo amor no caminho, nem perco tempo em seguir a estrada. abandono e encontro um atalho que me faça seguir em frente, a procura de algo que transborde de amor pra eu poder acompanhar. e pra poder viver da maneira como eu gosto. regada por um sentimento que me faz bem. simplesmente faz.
não me importo com mais nada. não me importo com dinheiro em abundância. nem com luxos. nem com objetos. não me apego. só me apego ao que transmite esse sentimento tão bom. não quero ser diferente, entende?
alguém aí fora entende que eu sou feliz assim? posso não ser a pessoa mais feliz do mundo. pros outros. posso sofrer um bocado e me trancar e me fechar pro mundo por alguns momentos. posso ser infantil pra uns. Idiota pra outros. desequilibrada pra todos. mas eu sou assim. e amo ser assim. sou feliz.
a verdade é que eu acredito na força e na energia que esse sentimento traz pra vida das pessoas. e continuo batendo na mesma tecla, aquela que diz que as pessoas são vazias JUSTAMENTE pela falta de amor na vida delas. acredito plenamente nessa minha idéia. que nem é tão minha. é de uma minoria de pessoas que vive a vida como eu. que são felizes da mesma forma que eu.
disse pra Ka dia desses... nascemos na época errada. parcialmente, eu diria. numa época em que nada mais importa do que a si próprio. e, pra ser justa, não acho que se abandonar é bom. não mesmo. mas, ter complexo de Narciso é péssimo. e é isso que a maioria das pessoas tem. um egocentrismo exacerbado, um vocabulário cheio de “eus” a todo instante. antigamente não era assim. pelo menos não dessa forma. Acredito que as pessoas se importavam com as outras, davam mais valor e se permitiam ter mais tempo pra analisar os próprios sentimentos e as próprias sensações.
ando cansada das pessoas. com preguiça mesmo. cansada de tanta falta de bom senso, completamente inconsciente. cansada de tanto vazio espalhado por aí. cansada do excesso de ação com falta de conteúdo. com a falta de perspectiva de uma evolução emocional.
cansada de me sentir vazia pelo vazio alheio.
não quero ter que me adaptar.
insisto.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

reflexão.

li hoje uma reportagem da revista OFFLINE, que recebo mensalmente em casa por causa do Felipe, que trabalhava lá. por coincidência, escreveram sobre a liberdade de expressão em prol do prazer. achei interessante, tirando o fato deles abordarem essa liberdade como um aumento do AMOR entre as pessoas atualmente. discordo. o que mais falta hoje em dia, também devido a essa liberdade, é a falta de amor mesmo. não digo a liberdade das experiências diversas entre diferentes sexos. mas sim a importância que se dá ao prazer, descartando a todo instante as pessoas, quando tudo se torna um pouco mais complicado, pelo fato de começar um envolvimento emocional com o Outro. o medo de se entregar é demasiado grande, e isso faz com que as pessoas se descartem com facilidade.
enfim, segue uma parte da reportagem, que achei interessante:


ADORO UM AMOR INVENTADO
Raoni Nicolai


Quem ousa dizer qual é a orientação sexual de Mick Jagger? E David Bowie? Ele curte ser sodomizado no seu alterego Ziggy Stardust se revelando uma bichona, ou ele prefere mesmo o calor de sua mulher? Paulo Coelho era um libertino com tendências gays ou apenas um curioso hippie desvirtuado pelas drogas quando deu o seu "olho de tandera" três vezes para ver simplesmente se gostava? Concluiu que não! Para quem interessa tudo isso, afinal de contas? Cada um cada um.

O fato é que se tornou bastante difícil rotular as pessoas em suas orientações sexuais, mesmo para os que amam rótulos. O que está rolando é um verdadeiro culto ao prazer e à liberdade, não importando com quem.

"Mas uma vezinha só e já é gay?", como perguntou um dia uma professora indignada. Para os mais conservadores, sim, sem sombra de dúvidas. Só o fato de cogitar a respeito já lhes faz gay; para os liberais, é apenas curiosidade e prazer descabido de preconceito e hipocrisia. Por isso tantas pessoas tiveram experiências ditas homossexuais e não se consideram homossexuais ou nem mesmo bissexuais.

Mas sabem quando você é criança, vai para a casa da vovó e ela pergunta se você gosta de berinjela? Você diz que não, sem pestanejar. Mas, quando a vovó descobre que, na verdade, você nunca comeu, ela diz: "Como você sabe que não gosta se nunca experimentou?". Cof, cof, cof.

Para muitos, é esse o ponto. E levam o conselho da vovó a sério. Claro que dificilmente alguém tentará algo se não houver curiosidade o bastante para isso, ou mesmo uma certa inclinação ou ainda estômago. Mas o maior ponto é a quebra do preconceito que, nos dias de hoje, permite às pessoas experimentarem coisas pela "mera" curiosidade, mesmo que seja para considerar, mais a frente, que aquela "não é a sua"; como o Paulo Coelho.


Essa atitude "desapegada", que encontramos em muitos lugares, ressoa do sexo livre do movimento hippie, dos anos 70, do feminismo e da geração "mais amor do que paz" norte-americana, que nos influencia até hoje. Soma-se a essas quebras a influência dos astros do rock e dos artistas liberais de forma geral, de um Mick Jagger na cama com David Bowie, da Madonna beijando a Britney, da mídia adoradora de sexos alternativos e de escândalos, sempre sedenta por mudanças e revoluções de comportamento... Com a globalização, a TV, a internet... ficou fácil ter referências, quebrar tabus, saber-se "normal"... Todas estas coisas nos aproximaram mais e mais das diferenças. E, de repente, sem uma moralidade rígida, nos vemos convivendo naturalmente com ela. Foram aspectos que levam geração após geração a pensarem mais em suas necessidades sem preconceito e maior aceitação com sua vontades.

Claro, às vezes tudo não passa de puro marketing. Por um lado, marketing pessoal; por outro, um marketing positivo da tolerância e da liberação. E quem também vai ousar dizer que, hoje em dia, não é cult ser bi? Modismo? Sempre um pouco! Mas o fato é que o mundo mudou e ele permite que as pessoas manifestem seus desejos mais livremente. É tempo de aceitação. Afinal, se eu gozar melhor, que mal tem?

O Orkut sacou isso ao não colocar bissexual como uma das possibilidades para orientação sexual, mas sim "bi-curious"; ou "bi-curioso". Faz mais sentido nos dias de hoje.
Como diria a mesma vovó: "Aonde o mundo vai parar?". Se é que para! hehe



P.S: destaquei as partes em que acho explícito um pouco do que eu introduzi antes da reportagem.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

calmaria.

toda vez que tenho medo de alguma coisa, é com ele que quero falar. engraçado, porque a gente costuma procurar alguém que transmita alguma segurança, no sentido de estar perto mesmo, pra poder ajudar. e, de fato, ele não está o tempo todo. teima em fugir quando eu começo a ter certeza de que vai ficar.
e, mesmo assim, quando o medo aparece, é ele que penso em procurar. talvez pela voz tranqüila. talvez porque parece sempre que está sorrindo quando fala. e, se sorri, é porque está tudo bem. e é disso que preciso. de tudo bem. talvez porque sempre tem uma notícia boa pra me contar. e isso me alegra. ou então porque, quando ouço a voz, lembro do rosto. e depois dos momentos todos. e me acalma.
e, por ter receio de procurar, eu resolvo então só imaginar. e lembro de tudo. do começo, do meio. sem fim. porque não teve fim. lembro de todos os detalhes. de nós. junto. das músicas que ainda tocam no meu rádio. das conversas. dos olhares. sem palavras. dos momentos que pareciam uma eternidade, contrapondo o relógio que fazia as horas passarem rápido demais. das surpresas.
sempre lembro. ainda mais quando tenho medo.
me faz sair desse meu mundo. e voltar pro meu mundo paralelo, que eu teimava em entrar quando estava com ele. e adorava. tanto. a ponto de não querer nunca mais sair.
...
estou com medo.
e queria ele por perto.
mesmo tendo o tempo todo.
em mim.