quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ali em cima, no céu.

saí agora pra comprar sorvete. me deu um desejo mesmo de tomar uma coisa que refrecasse todo esse amontoado de coisas quentes aqui dentro e aqui fora. me deu vontade de sair andando por aí, como se eu realmente não tivesse um mundo de coisas pra me preocupar... nem pra pensar. nenhum amontoado de pensamentos dentro da minha cabeça. só eu, a rua, a brisa e as estrelas. nem pessoas. porque, quando eu quero, eu consigo deletar as pessoas andando por aí. fico eu, Bruna, externa, andando. e só.
e é bom. e me faz bem.
saí andando por aí, com minha mãe... conversando sobre a vida. e daí falei de você. porque esses dias todos de sol, calor, brisa noturna, me deram nostalgia de nós dois. parece que, ao pisar no asfalto, voltei pra janeiro desse ano. e, então, veio um carro chegando perto do meu prédio, um carro igualzinho o seu. e eu até olhei pra dentro, pra ter certeza de que não era você mesmo, passando pra me pegar, pra gente parar na Paulista, andar de mãos dadas e tomar uma cerveja e comer polenta frita. e você pegar um pedaço de papel, fazer uma bolinha e eu olhar... e você olhar pra mim, fixada nos seus dedos, e sorrir. e, na semana seguinte, me pegar pra gente ir ali, no barzinho aqui perto de casa, e tomar alguns chopps e falar de nós dois... e não falar nada. e sentir o toque. e, alguns meses depois, me pegar pra ir lá na Faria Lima, comer provolone frito, falar sobre a vida, não falar de novo... se olhar e mais nada. era o suficiente, não era?
mas o carro não era seu. não era você lá dentro. e as coisas não são mais como eram. e então eu continuo andando e passo pelos lugares que a gente já foi, olho pra mesa que a gente sentou, olho pra piscina, pro salão de festas, onde tudo começou. e sinto saudade.
é que hoje eu precisei escrever, porque foi uma saudade diferente. não foi doída, sabe? foi gostosa. foi aquela nostalgia que você tem e sorri, sem mais nem menos. e foi assim que aconteceu agora pouco. essa sensação de coisa boa que reapareceu, assim, hoje, pra alegrar meu pré-feriado. e eu resolvi te contar.
e meus dedinhos apertaram muitas vezes as teclas do meu celular, sem culpa. e isso é bom. porque ontem eu queria ter feito, mas não fiz porque doía. e eu sonhei coisas feias. e eu não dormi direito. mais uma vez.
mas agora, não. agora foi bonito. e é isso que eu quero compartilhar contigo. as coisas bonitas que ainda ficam de nós dois. pra mim. não quero ter isso sozinha. quero que você saiba.
quero te dizer quanto o amor ainda é bom.
por mais que seja impossível e por mais que continue doendo, dias e dias, a coisa boa permanece.
e eu preciso compartilhar.
é que hoje tem estrelas brilhando no céu.
e é pra gente.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Rita Apoena:

Ontem os seus olhos doeram em mim. E como pode um olhar
doer em alguém uma dor tão limpa, rabiscar de azul o
silêncio que estendi pelos cantos no chão? Tive tanto medo
de encontrá-los, tive medo de levantar os cílios e eles se
deitarem feito um pássaro em tuas mãos tão claras, e
descobrires o que eu já não posso evitar. Tive medo de
notares o quanto eram indefesos diante dos teus... Por isso,
tratei de escondê-los por trás do quadro, dos ferros na
janela, da cortina, do tapete, das pétalas, colocando-se
diante de minhas pálpebras, enquanto eu falava qualquer
coisa para me esconder por trás das palavras.

Mas foi quando eu ainda nem havia dito nada, foi quando eu
ainda nem te conhecia, foi na fresta que, por descuido,
esqueci aberta... que teus olhos doeram em mim, caíram em
mim e me mancharam de tinta. Não sei o que era ali dentro
deles, se a minha tristeza ou a tua, mas nunca vi olhos tão
claros, nem outros que ofuscassem tanto a minha vida.

Agora eu viro para o lado e não quero mais que o outro me
siga, não quero mais que o outro me toque porque tocar as
minhas costas é empurrar a manhã para o meio das nuvens,
entende? Uma manhã que era toda feita para colher as
maçãs, as maçãs que eu enrolaria doces numa forma para te
dar. Por isso, quando ele me tocou, duas lágrimas eu aninhei
no travesseiro, e escorri com elas, e dentro delas esperei
que ele tocasse o meu corpo. Só voltei quando ele acabou.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

game over - para T.

e então eu desisto.
desisto de jogar esse jogo sem vencedor algum. esse jogo que você me colocou, sem eu pedir pra entrar. nunca quis um jogo. não gosto de competição. nunca gostei. por isso resolvo parar tudo que envolva competitividade. vou lá e desisto. como faço agora.
e esse jogo é injusto, você entende? porque eu tenho uma vida, enquanto você tem sete ou mais. você tem a opção de resolver morrer um pouquinho quando ta cansado. e depois volta quando bem entender. eu não. eu tenho uma vida e preciso lutar por ela e pelo final feliz no jogo. porque todo jogo tem um prêmio no final. e é sempre um prêmio bom, não é? e daí eu tenho que lutar contra todos os monstros pra conseguir chegar lá. e são tantos monstros! que me atacam, me empurram, me assombram.
então eu resolvi desistir dessa minha vida. e entregar o jogo pra você. porque, enquanto lutava, descobri que não tem o prêmio bom no final. o final é a morte. não há opção. essa vida não depende de mim, por mais que eu lute pra mantê-la intacta. essa vida depende de você. e você não precisa lutar por ela, com seis outras te esperando, caso você resolva morrer.
e, lutando, eu descobri outra coisa. descobri que um dos monstros que me assombra, um bem camuflado, nada mais é do que você. você me assombra, me empurra, me ataca, me joga pra longe. você me mata. e, se eu to nesse jogo, é porque eu achava, o tempo todo, que o prêmio era você. e então eu descubro que 'você' não existe mais. você foi junto com a primeira morte e criou, então, outros seis personagens diferentes. e nenhum deles é semelhante com o prêmio que eu quero. ou que eu quis.
e, então, eu resolvo desistir. porque o T. que eu queria, aquele mesmo que me fazia sentir borboletas, não dormir a noite, sonhar coisas bonitas, planejar um futuro bom, morrer de amor... aquele não existe mais. se matou. por cansaço. preguiça. angústia. não sei. só não existe. e, com muita dor, eu resolvo aceitar isso. e resolvo enxergar, claramente, que seis de você, completamente diferentes, não cabem aqui dentro. e nem querem caber.
e, assim, eu desisto.
entrego os pontos todos que ganhei, em suas mãos. te entrego a minha vida e a minha força.
minha vida = meu amor, cada vez menor e mais cansado.
minha força = o assassinato da minha esperança.
e, daí, você vence o jogo. e me mata.
e, daí, eu sigo a minha vida. congelada. sem prêmio algum.
e game over.