domingo, 27 de janeiro de 2013

associação livre.4.

uma tragédia acontece e, então, nos deparamos com as mais diversas reações HUMANAS.
algumas pessoas repensam a própria vida, após se deparar com a morte de tantas almas jovens, ansiando pela eternidade. outras choram como se as perdas fossem diretamente ligadas a elas. outros apenas são indiferentes.
 
o que eu realmente não costumo esperar é a banalização frente a dor alheia.
 
olhei por curiosidade a primeira lista divulgada pela imprensa, de 133 pessoas mortas pela fumaça na boate em Santa Maria. dentre elas, duas irmãs. pensei nos pais das duas meninas, tão jovens e belíssimas. uma acabara de entrar na Universidade Federal de Santa Maria. parecia feliz.
 
não repenso minha vida. não acho que minhas dores são pequenas perto das dores dos familiares dessas vítimas. consigo distinguir as coisas e valorizar o meu 'eu'. o que não me faz melhor ou pior do que ninguém. fico penalizada. me coloco no lugar. desejo calma e alguns analgésicos espitiruais para amenizar a dor, que será longa. me arrepio em alguns momentos, como se fossem próximos a mim.
 
e tento novamente compreender alguns comportamentos tão pequenos e sádicos. comuns, inclusive. isso tem me arrepiado mais do que a própria tragédia. afinal, uma morte ou 133 tem o mesmo significado para mim. perda e dor.
o que não compreendo, mesmo com grande esforço, é a ausência de compaixão e o excesso de frieza de muitas pessoas, as quais, além de não sentirem, fazem questão de satirizar em redes sociais.
 
penso então em uma única palavra: solidão.
passo a me sentir sozinha dentro de um mundo grotescamente nojento e mau. não sinto vontade - o que é ainda pior - de participar dessa humanidade ironicamente tão desumana.
desejei que o mundo realmente acabasse. seria um tanto interessante observar o desespero das pessoas e uma solicitação divina de perdão. em vão.
não há divindade que salve a sujeira do mundo. quem dera nosso Deus - essa força maravilhosa - pudesse com um simples movimento salvar a própria criação. como deve doer, caso seja ele uma pessoa.
 
como dói a mim ser fisicamente tão semelhante, e tão espiritualmente diferente. repito: não é ser melhor ou pior que ninguém.
é ser diferente de.
todos.
 
fechei a lista das vítimas. desejei força e luz para os familiares.
e desisti do resto do mundo.

desabamadrugada.

você passa a vida inteira priorizando os outros ouvindo acolhendo aconselhando sem ter muito quem te ouvir quando a dor é sua o outro se ocupa preenche a brecha de tempo onde você poderia entrar você psicologiza um pouco esse comportamento justifica compreende abstrai subtrai prioriza mais alguns começa a conversar com as teclas do computador espelhos cadernos sonhos qualquer forma de auto-compreensão um pouco em vão você descobre com o tempo é um pedido de abraço e de ouvidos e de respeito e de sinceridade que você vê sumindo no meio de tanto tumulto de um lugar tão estranho e quando finalmente você resolve se colocar cautelosamente em primeiro lugar o mundo te aponta e te culpa logo você também se culpa de tentar depois de tanto tempo e tanta solidão lembrar da alma tão sufocada que não consegue gritar dentro de você no meio de tanta gente nunca se sentiu tão sozinha

(respira)

me.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

das cores, três.

a água no rosto. respiração ofegante. dois passos pra trás.
ela se olha no espelho, reconhece alguns traços, desconhece algumas marcas que antes não estavam ali. começa a tentar encontrá-las na linha do tempo. o momento exato da pele contorcida e da linha fincada, sem volta. não se lembra. são tantas marcas tão pequenas. mais valiosas que qualquer linha grossa, constante, inteira. em cada fragmento existe uma história. nem sempre tão bela. definitivamente intensa.
volta a se enxergar. as mãos, caminhando pelo rosto, exigem qualquer resposta ou impedimento. querem um ponto fixo pra morarem, nem que por alguns minutos. não encontram. são tantas perguntas daquela mente que não se cansa de buscar. não são as mãos, os pés, braços e pernas, juntos, que encontrarão todas as respostas.
ela para de respirar por alguns segundos. analisa a cor do corpo. admira o marrom-dourado-jambo. teme em perdê-lo. tantas coisas vão e vem e ela teme em perder a cor da pele. nada mais importa ali. é isso. não há nada insubstituível além da cor da casca da alma.
volta a respirar. fica dourada levemente mais clara. ainda assim, admira. escolhe o ponto constante da vida: a pele. não há sentimento que perdure. tantas voltas e reviravoltas. nós que atam e desatam. e ela continua ali. marrom-dourada-jambo.
nunca pareceu tão fácil.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

associação livre.3.

"tudo dito
nada feito
fito e deito"
 
Leminski
 
quanto maior a sinceridade, maior a cegueira do outro. as pessoas têm tanto medo da clareza que preferem se esconder nas sombras. e a sombra pode ser você. a escuridão dos próprios atos, acalma. acreditar ser algo que não se é, tranquiliza. definir pelo outro, nunca por você. afinal de contas, responsabilizar terceiros quebra espelhos.
 
malditos espelhos? abençoados espelhos. insufilm queima. experimente. uma bolha interna, explode desespero. os cromos assustam. ardem os olhos. apertam os sentidos. lesionam vértebras.
 
no início.
 
a leveza que acarreta, posteriormente ao enfrentamento da angústia, chega. do outro lado, o insufilm borbulha os sonhos, esvazia o pulmão, queima o peito e cega.
 
eu (você) eu (você) eu (você). EUVOCÊ, bum. você e eu? nós em mim. quem sou eu? (eu sou você. ajo querendo você). você me quer. ela me quer. (quero que ela me queira). BUUUM.
 
insufilm é arma letal.
prefiro cromos, três pedras de gelo e um pouco de vodka.
e muita sinceridade.
minha pra mim mesma.
 
expectativa de vida: