sexta-feira, 23 de novembro de 2012

associação livre.1.

há tanta coisa no seu mundo. tantos sonhos, tanta vida, tantos vínculos, tanto nada. é que o ser humano tenta o tempo inteiro preencher todos os vazios e depois esvaziar os preenchimentos que tudo se entrelaça e vira um nó. você espera se entrelaçar com o maior número de pessoas possíveis, pra não terminar só. a solidão é demasiado dolorosa e então as pessoas vão sendo introduzidas de alguma forma no seu mundo sem ao menos ter o encaixe correto.
 
(pra mim, a vida é um encaixe. não é tudo que cabe. não em todo mundo.)
 
pior do que a falta de formato, é o formato de um lado só. você espera a perfeição de um quebra-cabeça e esquece que sempre pode faltar uma peça para o gran finale. e o que é bonito pra você, pode não ser exatamente o mesmo para o outro. e então, o nó.
 
você pode oferecer um abraço e a pessoa só o dedo mindinho do pé. o seu mundo desmorona e ninguém te ajuda a montar. você sorri com a cara e o outro quer roubar teu sorriso. o teu mundo existe só pra uma pessoa: você.
 
e as pessoas atiram em mendigos nas ruas, indefesos e em pessoas em pontos de ônibus vazios, porque os ônibus foram queimados e ninguém mais pode sair na rua sem ter medo de uma bala perdida, e isso tudo porque o outro negou um abraço.
 
afinal de contas, os braços estavam muito ocupados pra carregar o peso de uma falsa felicidade. é tanto tempo perdido consigo mesmo que o corpo pede arrego. e então começa a usar o corpo dos outros, sem sequer arcar com a manutenção de um tórax inteiro. vazio.
 
o ventilador gira rápido aqui em cima. a luz pisca e o remédio começa a fazer efeito. ventilador? eu penso. ventila-a-dor.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

oxi.gênio.

um estalo no meio da noite. tantas pessoas se cruzando e mesmo assim o mundo parece sozinho. cada um dentro de sua loucura regada a bebidas fortes e drogas pesadas. um mundo insano. os olhares se cruzam e até se encostam, como um pedido de socorro. mas subsequentemente se perdem. conversas desconexas, imagens perdidas na memória que não precisa ter importância. e inclusive, parece tão insuportável.

alguma vez fez sentido?

a noite inteira dedicada a todos os tipos de pensamentos e análises e observações. e a única conclusão de não caber ali. o espaço é tão grande e a casa nem está cheia. já reclamei tantas vezes dos corpos se batendo em mim, implorando por um espaço. meus dedos dos pés já imploraram por folga e só obtiveram roxos como lembrança do caos. mas agora é diferente. há espaço, os corpos minimamente se respeitam e mesmo assim sinto falta de ar.

não pertenço a este lugar. o espaço é tão pequeno pra uma vontade enorme de ser eu mesma, sem precisar das garrafas intermináveis de vodka e energético e as drogas necessárias pra colorir as luzes sempre tão amareladamente opacas.

eu não caibo nessa enorme caixa. por trás dos corpos dançantes eu vejo um bocado de almas perdidas, tentando preencher o vazio alimentando os orifícios dos corpos da maneira disponível ali. línguas se tocando, mãos se esfregando e partes dos corpos totalmente expostas.

e eu que só consigo expor a alma, esta que olhares perdidos não conseguem enxergar?
falta oxigênio nesse ar.

domingo, 11 de novembro de 2012

raso.

(as coisas acontecem por algum motivo mesmo. só pode ser.)

você pensa pra si mesma, e ao mesmo tempo parece um grito pro mundo.
depois de passar as horas pensando bobagens rasas e se afogar. não há pedido de socorro que te salve disso tudo que te machuca e te consome.

pior do que não ter as respostas que o mundo promete te dar, é ter consciência do silêncio e mesmo assim plantar esperança em qualquer terra morta que encontra pela (sobre)vida afora.

você tem um olhar 360 graus e observa as pessoas respirando. tenta adivinhar se respirar é o suficiente pra elas e então percebe a própria falta de ar. constante. e a poça d'água, logo ali na frente. e, em segundos, uma enchente adentrando os pulmões.

sufoca.

no peito cheio não cabe mais nada.
transbordou angústia.

sábado, 3 de novembro de 2012

pra você.

você procura um colo pra deitar e eu te ofereço meu corpo inteiro. existe um bocado de alma em mim e em você. e em cada toque de pele nossas almas se encostam e existe então uma troca de sonhos. tenho sonhado sempre com você.  
você olha pra mim e eu sinto vontade de sorrir. seus olhos estão normalmente brilhantes. pequeninos e levemente inchados, como uma criança que acaba de acordar. e combinam com seus cachos que eu tanto gosto. eu teria um cachinho seu, roubado, em um potinho pra guardar de lembrança.
gosto quando você me chama de preta com um toque de charme. daqueles que um garotinho faz quando quer ganhar um videogame. ou quando quer dar qualquer demonstração de carinho e não consegue. você fica sem jeito e eu sei te ler inteiro e te abraço com os olhos.
eu admiro seu jeito meio reto e meio torto de tentar fazer tudo certo. e ao mesmo tempo amo cada pedaço da sua parte errada. observo você se considerar tão imperfeito, sem tentar transparecer, e é justamente nessas horas que eu encontro a perfeição em cada curva dessa sua alma confusa.
eu gosto de todos os seus lados. de como você passa as mãos nos cabelos e depois as coloca no rosto, quando não sabe o que dizer. e suas tentativas de mostrar ao mundo que vai ficar tudo bem. gosto de como você se expõe pra mim sem perceber. eu conheço cada cor e cheiro e detalhe da sua alma, sem ao menos ter que analisar. é natural. como a matéria da minha aula favorita. você entrou em mim como uma teoria. e eu espero todo dia pela prática.
eu te amo e meu amor já se tornou involuntário. eu sei te amar de todas as formas que existem, infinitas e variáveis. você se encaixa em todos os formatos do meu coração. eu te sinto dentro de mim, como se fôssemos, hoje, duas almas entrelaçadas, brigando pra caberem em dois corpos.
eu também não sei mais como te amar. não doutro jeito. te amo entregue, inteira, aberta, esperando você entrar. todos os dias.
e entra.