quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

São Paulo, 4/7/97,

Esta não será uma carta de amor. Digamos que ela seja uma carta-desabafo. Cafona? Exatamente. Cartas ridículas lotam os anais das obras afetivas, aquelas que um dia nos montam de vergonha. Mas eu posso, afinal de contas. Eu, aliás, posso qualquer coisa. Há muito tempo venho me permitindo não mais me preocupar com certos códigos externos de conduta. Como fazer, o que não fazer, pra que fazer. Tudo o que não fiz foi porque não quis, detesto que me ditem regras. Sou geniosa. Sob consulta, diriam: não ligue pra ele, não diga que sofre com esta distância. Só que não suporto o gosto de sapo. Não engulo, sequer aproximo a boca. Não gosto de quem não me trata bem. Sapos, como a maioria dos répteis e razoável parte das pessoas, são gelatinosos, escorregadios; previsíveis em suas estratégias de pulinhos desordenados. Aqueles consultores, os que não tenho, diriam-me na certa: carta-desabafo? Jamais! Nada melhor que o desprezo! Gente, eu matava quem inventou esta pérola da babaquice humana. Se desprezo funciona, para mim, é para eu deixar de gostar de quem se utiliza dele. Não me ligando. Somente para isso. No mais, no máximo, o desprezo me serve como imediato desencanto. Você agiu de propósito? Uma tática Proposta Indecente? Se foi, tsi, péssima solução. Eu, por minha vez, tranqüila - estou calma como... o que é supercalmo?... como uma monja gorda, eremita, no mais alto cume do Tibete -, devo dizer pra você uma coisa: estava tão certa de que uma paixão não deve ser jamais sublimada, já que assim torna-se cancro, que me encontrava disposta a também realizar este mesmo sentimento. Com certeza e força. Com toda a beleza e liberdade. Porque não haverá, nunca, algo que consiga ser maior que a liberdade. Eu fiz tudo pra ser livre, e o meu amor haveria de ser poupado da dor, uma vez que sabe-me livre. Conheceu-me livre. Amou-me por eu ser livre. Mas Santo Expedito agiu rápido, obrigada, Senhor. A graça alcançada? Minha paixão diluiu, mais nenhum telefonema, que não os que sempre me trouxeram amor verdadeiro, duradouro e inigualável. Não há desculpas de "estou ocupadíssimo"; um homem que me tem amor jamais está ocupado demais para falar-me oi.
Carta-desabafo?! Foda-se.


As Pessoas dos Livros - Young

domingo, 20 de fevereiro de 2011

fadada a.

é como o tombo. o auge de um. o ápice da dor do cóccix batendo no concreto.
a idéia firme de algo entorta.
tem o objetivo de uma vida por trás de exatos comportamentos. é subjetividade. a minha requer esforços específicos pro alcance perfeito. ou quase. é questão de acreditar. se deposita uma quantidade extrema de energia no foco e segue-se a reta.
cada um tem um punhado a doar. depende da estrutura que se tem.
o que não se espera é a rasteira. o osso trincado. o tiro no pé.
e então, a desistência.
não é fraqueza, entende? é cansaço.
mil nervos atrofiados se contorcendo de dor. o músculo pede pra parar. e o coração é músculo.
incansáveis definições para um pedaço do músculo que pede arrego.
chega de doer. e de buscar. e de pulsar. e de cansar.
o coração também tem digitais. únicas em seus formatos. maneiras. pulsões.
o problema todo então é ser ensinado a querer um encaixe digital e só conseguir um amor tecnológico. existe um sutil desaforo em se comparar tamanha distinção.
exausta então de construir fantasias nem de longe similares a realidade humana, escolho a cadeira de rodas. me remete menos esforço, nenhum encaixe social e uma dolorosa conclusão:
incapacidade de.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

associação livre:

não sei bem qual palavra usar.
necessidade é um tanto forte. pelo menos do meu ponto de vista.
é chegado um momento que vem do lado de dentro da gente. deixa de ser social. acho. se é que existe essa divisão em algum momento na vida. a real das coisas é que nada de fato é separado depois que se junta. simbolicamente falando. quando a gente agrega X no Y, não tem mais como voltar a ser consoantes separadas. entende como?
o ponto é que: é chegado um momento em que o corpo, e principalmente a mente, cobram um plus da vida. e normalmente a procura é longa e o plus nunca é alcançado. e, quando é, não parece suficiente. os desprazeres e prazeres da vida que Freud tanto questionou, justificou, finalizou nas mil teorias da sexualidade humana chegam a causar uma náusea do caralho em mim.
tem os mil questionamentos sobre a vida que geram o senhor mal-estar que deu nome a uma das obras do famoso psicanalista.
o ser humano nunca está de fato feliz.
a gente busca mil felicidades distintas ao longo da vida e no final das contas não nos resta nada. qual o objetivo da vida, então? a plenitude nunca é alcançada e isso já é um fato. mais fato ainda quando ciente de que se busca o preenchimento das suas falhas no Outro e nada se tem.
a gente tem essa mania filha da puta de achar que o Outro completa e só assim é possível a felicidade. e, quando preenchidos, definitivamente alguma coisa está errada. essa consciência das coisas é tão torturante e eu tenho cada vez mais certeza de que a ignorância é a chave pra real felicidade.
e então, consciente de toda essa auto sabotagem humana, eu tento fugir disso tudo, das padronizações humanas impostas seiláporquem. e continuo vazia. sem saber se de fato a palavra é necessidade ou condicionamento.
é só um desabafo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

...

"É. Eu achava que, quanto mais escrevesse, quanto mais livros eu fosse capaz de publicar, mais as pessoas me conheceriam. Leriam todas aquelas palavras e diriam: nossa, essa mulher é tão sincera, a sua literatura é tão verdadeira, que eu nunca poderei ser desonesta com ela. Sinceramente achava que, escrevendo, eu poderia conseguir não mais me decepcionar com as pessoas. Porque a decepção, a trivial decepção, tornou-se a vilã detonadora de todas as minhas intrincadas reações patológicas. Não que meus livros sejam fofinhos, deliciosos, puros, happy-ends, do tipo que você imagina o autor sorridente, como um Saint-Exupéry repleto de boas intenções. Não, bem longe disso, eles são reais, e a realidade é dura. Acreditava, porém, piamente, juro, que, se as pessoas vissem esse real através das minhas palavras, não poderiam jamais mentir pra mim. Ou de novo pra mim. Não por qualquer tipo de constrangimento, mas por terem aprendido como é bonito falar a verdade."

As Pessoas dos Livros - Fernanda Young

ela - eu:

"Exagero, não? É, ela é dessa maneira, contaminada pela dramaticidade. Leu e releu a biografia de todos os seus escritores prediletos. Não aceita relações que não sejam eternas, paixões que não sejam profundas, dilemas que não sejam fatais. Casos platônicos devem durar, no mínimo, 40 anos. Só resta a Romeu, morrer, perante a arrebatadora amada, perfeita até na sua impossibilidade."


As Pessoas dos Livros - Fernanda Young

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

a gente tem duas escolhas sempre: entrar em contato ou sair pela tangente.
são sempre essas duas, independente do tema, da felicidade ou da dor.
cada ser humano age de uma maneira singular e específica, por mais que pareça de fato igual. nunca é. nunca são. porque o motivo da ação é distinto. eu tenho a minha subjetividade e é ela que me faz responder conforme preciso ou quero.
precisar e querer.
o problema é sempre esse. distinguir cada momento é sempre tão complexo e nem sempre o autoconhecimento justifica. eu nunca sei quando é necessidade ou quando é desejo. afinal, se eu necessito, é porque em algum momento da minha vida desejei. e, se desejo, em algum momento eu vou necessitar.
paralelo e perpendicular. ando lado a lado ou escolho o toque, o cruzamento? o que me satisfaz mais? o contato ou o caminho? o que cada um me proporcionará?
Niezsctche filosofa sobre niilismos. em um deles - não me lembro qual agora -, ele traz a complexidade humana frente a vida. questiona as escolhas individuais e coletivas, objetivando de maneira clara o resultado do viver dentro de todos nós. se eu pudesse renascer e reviver minha vida, faria tudo exatamente igual? se não, esclarecedora é a infelicidade de. se sim, visível a plenitude é. entretanto, como optar?
escolhas. a gente sempre tem duas. independente de ser ou estar.
o que te faz mais feliz?

sábado, 5 de fevereiro de 2011

de dentro.

o mundo me empurra oportunidades.
cospe todas na minha cara, me incapacitando de boicotá-las.
eu sempre tive a mania de forjar uma cegueira das hipóteses e fatos, como uma forma de me isentar de qualquer responsabilidade sobre o certo.
tenho uma loucura lúcida de desgostar de certezas. e, ao mesmo tempo, anseio diariamente um colo pra deitar. um colo que não se esquive toda vez que eu pedir pra ficar.
quando as certezas me encontram, corro desesperadamente à direção contrária. é uma fobia incontrolável por saber que existe algo e/ou alguém no mundo que queira se encaixar no meu.
afinal de contas, o encaixe comumente é talhado por mim. a gente se acomoda ou então se condiciona muitas vezes a se manter em uma posição nem sempre satisfatória, mas oportuna. e existe um ganho, por mais distante que aparente ser.
e quando todas as certezas se tornam incertas, retiro do âmago um encantamento incomum - comum pra/em mim. passo então a almejar imensuravelmente o que nem de longe é igual. é como uma prova de liderança. de mim pra mim mesma. uma necessidade de provar ao próprio 'eu' a capacidade de transformar o talvez e o não novamente em sim. um narcisismo transformado em desrespeito egóico. algo do tipo.
sempre denominado como alguma forma de amor. pro Outro.
e que, de alguma forma não deixa de ser. me entrego a luta de te ter.
bonito, se não fosse deveras doloroso.