domingo, 29 de junho de 2014

fragmento:

Aí você faz lá as suas merdas, e deixa a garota por qual você lutou pra ter, ir embora. Olha ao seu redor. O que faz sentido? Uma tequila e duas vodkas? Ou então dois cigarros e uma taça de vinho? Caralho. Vai mesmo deixar a mulher da tua vida passar assim de bandeja? Não vai fazer nada para que ela fique? Ela está indo embora, e não volta. Ela não vai voltar. Me diz, o que faz sentido quando você acorda? Não me diga que são os passarinhos cantando na janela do seu quarto. Vai dizer que você não se sentia feliz ao ver o sorriso dela pela manhã? Vai dizer que o sorriso dela não era o mais bonito que você já viu na vida? Porra. Acorda. Tem muito marmanjo por aí, querendo a garota que te ama. E você aí, deixando ela passar, deixando ela ir embora, deixando ela tomar outro rumo. Pra quem você vai ligar às 00hs e dizer, “faz um pedido?” Pra quem? Pra pizzaria é que não é. Quem vai te fazer feliz? Essas garotas “Corrimão de quartel” que você encontra nessas baladas que você vai? Ou uma loira bem gostosa que fica sempre sentada em frente um bar, procurando um otário pra pagar a conta? Te garanto que feliz ela não vai te fazer, porque a tua felicidade era outra coisa. Tinha outro nome. Outro sorriso. Outro cheiro. A tua felicidade, era tua. (...) E sabe o que você vai dizer depois disso? "Perdi a mulher da minha vida” É, você perdeu.


- Projota

dez meses, menos um.

um comprimido de relaxante muscular pra conseguir dormir na noite que antecede o encontro.
...
27.06.14, 15hs00, estação Carandiru.
comprei um maço de cigarros pra tentar matar asfixiadas todas as borboletas que sentisse no estômago. de longe, boné preto, rayban, camiseta estampada e bermuda branca. ele.
e um iglu entre nós dois.

ele, roendo a unha. eu, apertando os dedos.

depois de apontar o lugar exato, estiquei a canga, tentando encontrar uma posição confortável pra me proteger da bomba que seria jogada bem em cima da minha cabeça. ele, ainda de pé, relutando sentar, como uma garoto levado que fizera algo errado e que, após assumir os erros, sairia correndo pra longe dali.

aos poucos, desarmado, se aproximou. primeiro de costas, depois de lado. paulatinamente, foi olhando pro meu rosto. durão, descreveu os fatos, com a minha ajuda. um tapa simbólico na minha cara. mas, agora, com luva de pelica.
eu já sabia.

relutei para não sentir nada. impossível. afinal, "são nove meses, não nove dias", já dizia ele. oscilei entre querer ir embora, e ficar pra sempre.
andamos.
brincamos.
nos olhamos.
nos provocamos.
e nos beijamos.
...
ele disse que nunca conseguiríamos ser novos conhecidos. mas a verdade é que, naquele exato momento, parecíamos novos apaixonados. como naqueles filmes em que os dois já sabem que se amam, mas ainda não revelaram um ao outro.
e, ali, eu já sabia que, mesmo receando ficar, eu já tinha ficado.

pedi calma. ele aparentou não querer. não disse nada. não insisti.
"amor", "baby", esfihas, músicas, despedida.
...
eu queria ter o poder de apagar as coisas ruins do passado. como naquele filme que indiquei pra ele.
ou então comprar uma máquina do tempo. pra desacelerar a cronologia.

existe um amor dentro de mim, imensurável. ainda.
talvez um pouco mais racional. como se tivessem sobrado exatos dois balões dos onze que a Clarice segurava.
esses dois me mantém viva. e os outros nove, defendida.
mas o amor ainda está aqui.
e eu preciso viver cada centímetro dele, mesmo que isso exija tempo.

aquele que sustenta a calma.
aquela que sustenta a confiança.
essa que sustenta o meu amor.

(não me deixa ir embora nunca mais?)

domingo, 22 de junho de 2014

associação livre8.

1. não sei ao certo porquê.
sexto sentido de mulher sempre funciona, me diziam. levava isso como clichê social.
hoje entendo um tanto diferente.

2. resiliência. sempre gostei dessa palavra. ouvia nas dinâmicas de grupo, quando pediam para que cada um se definisse em uma palavra. a maioria usava essa palavra, enquanto eu usava "calma".
ser resiliente é tão difícil nos tempos de hoje, que quando se definem assim, pouco acredito no Outro. mesmo assim, espero um tanto ansiosa a conduta resiliente de todos. sempre me frustro.

3. eu acredito que todo mundo peca em relacionamentos. defendo a tese de que ninguém erra sozinho. pelo menos quase sempre é assim. considero relevante o perdão. mas somente quando a sinceridade o antecede. como perdoar a mentira? ambos são, assim, imediatamente anulados.

4. ele voltou. depois de tantos tapas na cara consecutivos, já balançando a bandeira da derrota, com tantas lembranças jogadas impulsivamente no lixo, ele resolve voltar. resgatei as sobras de forças aqui dentro do meu peito, misturei com algumas doses de razão e, finalmente, tomei a decisão mais centrada dos últimos tempos: esperar, refletir, sugerir. pra, então, falar.

5. pedi sinceridade. é a única coisa que realmente me faz acreditar em possibilidades. daí o "acreditar em perdão". ele acredita que não sei. e quem não sabe é ele. as provas estão intactas dentro da minha memória fotográfica. lembro das falas, dos risos, registrados em fotos e áudios desse maldito aplicativo. da descrição da melhor amiga, sobre tudo o que foi. das discussões da minha dor entre ela e a namorada. e eu não posso gritar. tenho que engolir seco, como areia e vidro, e aguardar ansiosamente que reste, a ele, a simplicidade e o respeito por mim. e que assuma. eu erro, tu erras, ele erra. nós erramos, vós errais, eles erram.

6. só assim as coisas seriam mais fáceis. e sairiam, então, do ponto morto.

7. tenho uma carteira, uma calça do avesso, algumas blusas, dois edredons e um celular. jogados na cama. estou sentada há exatamente três horas e minhas costas doem. penso no dia de estudo perdido, quando na verdade nada está perdido. ou pelo menos não deveria. lembro do moletom vermelho pelo qual me apaixonei no shopping, pra não ter que lembrar do vazio do coração.

8. é. eu realmente gosto da ideia de a culpa ser das estrelas.

domingo, 8 de junho de 2014

saudade.

já pensei em te escrever uma carta. só pra dizer tudo o que eu quero, desde o dia do fim. te contar a verdade oculta, que não me deixa comer como antigamente. te perguntar o porquê das coisas, pra não ter que dormir diariamente pensando em tudo o que foi. e no que poderia ter sido.

hoje fiz o caminho pra tua casa. e doeu.

por alguns segundos pensei que, se eu estivesse sozinha no carro, teria prosseguido na Avenida Santa Inês, ao invés de ter ido pro outro lado. só pra tocar tua campainha e dizer que não fui embora à toa. olhar nos teus olhos e dizer que, apesar de tudo, é você que eu ainda amo. e que não foi justo o que você fez com a gente.

eu sinto dor todos os dias quando acordo, e espero todos os dias uma notícia sua. são só duas semanas e eu me sinto um ano viúva.
lembro dos nossos planos, tão distantes e ingênuos, mas suficientes pra nós dois.

é de você que ainda lembro, todos os dias, quando acordo.

talvez eu ainda te escreva uma carta.
pra, depois, saborear um banquete.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

décimo dia.

e é nas quartas-feiras que sinto mais tua falta.

nem sei ao certo o porquê. afinal, nada de especial acontecia às quartas-feiras, não é mesmo? a não ser nas últimas semanas, quando planejávamos nossos encontros na cafeteria, às quintas, exatamente às 18hs00.  talvez por ser, então, o dia que precede às quintas, eu sinta tanto a tua falta.

e é do meio da semana pra frente que meu coração se esmaga. ele vai se encolhendo no lado esquerdo do peito, tentando se esconder pra abstrair qualquer ausência sua que possa ocasionar grandes dores aos finais de semana. esses sim, tão esperados.

o sábado principalmente. meu corpo começava a gritar logo cedo, ansiando às 18hs00 dos ponteiros, para eu pegar a chave e correr até você. encontrei caminhos mais fáceis pra chegar no pico desse seu bairro tão sinistro. e chegava, depois de quase uma hora de viagem, tão feliz. era nesse dia que eu grudava meu corpo no teu e esquecia todos os meu problemas, até às 04hs00 da manhã. e quando colocava os pés pra fora da sua garagem, descobria que existia um mundo lá fora.

o domingo... um dia triste. nostalgia da noite anterior, e a certeza de só te encontrar quatro dias depois. o medo das brigas tão constantes por causa da distância tão dolorosa. e então o recomeço de uma semana demasiada extensa.

já se passaram dez dias. só 50% do meu coração bate. dolorido. meu cérebro tem funcionado a 320 volts, tentando compreender diariamente o porquê do nosso fim. o motivo subjacente, aquele que ninguém enxerga. tampouco eu.

minhas epifanias não me servem de consolo. e ao acompanhar o seu imediatismo, meu peito grita.
minha alma ecoa, numa constante, o famoso "e se..." que tanto incomoda a todos. porque, SE nossas decisões tivessem sido diferentes, poderíamos. seríamos ainda "nós".
...
quinta-feira. sol. olhos molhados. olheiras bem marcadas. asas quebradas. balões estourados.
...
e mais um dia sem você.

terça-feira, 3 de junho de 2014

análise de fim de jogo.

foram oito meses e exatos vinte e seis dias. chegados ao fim.
abraços, beijos, cafunés, mãos dadas, cócegas, leveza e muito amor. acabou. é o que fica.

ele demandava meu mundo ao lado dele. vinte cinco horas, porque as vinte e quatro horas do dia eram poucas. ele tinha medo de um abandono que eu relutava em praticar. ele acreditava que eu encontraria homens mais barbudos e melhores e completos. ele se considerava parcial.

eu tinha infinitas defesas. receava o fim, o desinteresse e as novidades de um futuro próximo. preferia, então, vestir a persona que sempre funcionou muito bem: mulher bem resolvida, independente, ativa e completa. afastava. demonstrei tardiamente a menina-mulher permeada por inseguranças. quase as mesmas que as dele. acreditava que ele encontraria meninas perversas, cheias de vida e com pouco a oferecer intelectualmente, e muito a oferecer sexualmente.

lacunas. quando não se consegue preenchê-las dentro de um relacionamento, não vinga. impossibilitada de preencher as horas diárias e maçantes de uma distância aparentemente pequena, e absurdamente infinita, somada às inseguranças de um garoto confuso, ele precisou. era buscando em outras, afinal, que a autoafirmação de um "macho alfa" preencheria tais inseguranças. ao mesmo tempo que perder esse nosso amor continuava a torturá-lo.

mas é que a vida, grande pregadora de peças, colocou em campo quem facilitasse o fim de jogo. aquela que, futuramente,será uma real decepção na vida dele. a quem ele idolatra e se espelha. essa que ele ama, sem de fato ser amado. o grande coringa. mascarado.

ela trouxe à tona as práticas desleais de um garoto inseguro. práticas descritivamente detalhadas por uma cúmplice relatora.

e o ponto final. the end. "perdeu, playboy".

vomitadas as angústias, analisados os comportamentos, após tentativas falhas de um final minimamente saudável, resolvi ir embora sem olhar pra trás. pra ele, deixei palavras sinceras de alguém que não queria ir embora, mas precisou. a gente sabe exatamente o momento de ir embora, mesmo sem querer partir.

pra mim, ele deixou decepção. e lembranças de oito meses e exatos vinte seis dias de altos e baixos. mas de uma vivência insubstituível.

pra ele, eu desejo autoconhecimento, permissividade para entrar em contato com a dor. e tolerância às futuras frustrações que virão pela frente. sobre ela.

pra ela, eu desejo discernimento sobre o sentido de amizade, esse mesmo que ela tanto prega, com apelidos peculiares e overdose de retratos. sinceridade nas relações, aparentemente abaladas pelos conflitos intrafamiliares, desde sempre tão difíceis. e paz.

a mim, restou calmaria. o autoconhecimento e consciência das minhas responsabilidades dentro de uma relação tão instável quanto bonita. e o meu paulatino trabalho em interromper um sentimento real e intenso que vivi e JAMAIS abriria mão.

niilismo: se eu voltasse no tempo, faria o mesmo. com ele.

(obrigada, psicologia.)