domingo, 29 de junho de 2014

dez meses, menos um.

um comprimido de relaxante muscular pra conseguir dormir na noite que antecede o encontro.
...
27.06.14, 15hs00, estação Carandiru.
comprei um maço de cigarros pra tentar matar asfixiadas todas as borboletas que sentisse no estômago. de longe, boné preto, rayban, camiseta estampada e bermuda branca. ele.
e um iglu entre nós dois.

ele, roendo a unha. eu, apertando os dedos.

depois de apontar o lugar exato, estiquei a canga, tentando encontrar uma posição confortável pra me proteger da bomba que seria jogada bem em cima da minha cabeça. ele, ainda de pé, relutando sentar, como uma garoto levado que fizera algo errado e que, após assumir os erros, sairia correndo pra longe dali.

aos poucos, desarmado, se aproximou. primeiro de costas, depois de lado. paulatinamente, foi olhando pro meu rosto. durão, descreveu os fatos, com a minha ajuda. um tapa simbólico na minha cara. mas, agora, com luva de pelica.
eu já sabia.

relutei para não sentir nada. impossível. afinal, "são nove meses, não nove dias", já dizia ele. oscilei entre querer ir embora, e ficar pra sempre.
andamos.
brincamos.
nos olhamos.
nos provocamos.
e nos beijamos.
...
ele disse que nunca conseguiríamos ser novos conhecidos. mas a verdade é que, naquele exato momento, parecíamos novos apaixonados. como naqueles filmes em que os dois já sabem que se amam, mas ainda não revelaram um ao outro.
e, ali, eu já sabia que, mesmo receando ficar, eu já tinha ficado.

pedi calma. ele aparentou não querer. não disse nada. não insisti.
"amor", "baby", esfihas, músicas, despedida.
...
eu queria ter o poder de apagar as coisas ruins do passado. como naquele filme que indiquei pra ele.
ou então comprar uma máquina do tempo. pra desacelerar a cronologia.

existe um amor dentro de mim, imensurável. ainda.
talvez um pouco mais racional. como se tivessem sobrado exatos dois balões dos onze que a Clarice segurava.
esses dois me mantém viva. e os outros nove, defendida.
mas o amor ainda está aqui.
e eu preciso viver cada centímetro dele, mesmo que isso exija tempo.

aquele que sustenta a calma.
aquela que sustenta a confiança.
essa que sustenta o meu amor.

(não me deixa ir embora nunca mais?)

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